Agenda do Movimento

19 outubro 2009

AGENDA 21 NA ESCOLA: INSTRUMENTOS DE TRANSFORMAÇÃO LOCAL

por Diogo Damasceno Pires, Luanna Elis Guimarães e Thaís Lourenço Cruvinel.
(texto publicado na 3ª Edição da Revista Agenda 21 & Juventude)
Imagine-se na sala de aula, no ensino fundamental ou médio. Você consegue voltar no tempo para fazer esta reflexão? No seu tempo, como funcionava a escola? Qual era o seu papel nela? Estas são questões que nos colocam numa condição reflexiva, que procura entender a escola em toda a sua complexidade, para discutir verdadeiramente o papel da escola e da sociedade.
Segundo Paulo Freire (1996), o papel da escola é estimular o discente a desenvolver uma consciência crítica a respeito do sistema no qual este está inserido. A partir disto, esperamos que a escola cumpra seu papel de fomentar a relação social dos alunos com a sociedade, cumprindo e desempenhando funções que ajudem a prover as necessidades básicas do ser social. Em síntese, a escola deve construir a cidadania.
Dessa forma, a Educação Ambiental (EA) tem esse caráter crítico e transformador, devendo, portanto, estar inserida no ensino formal de maneira transversal. A EA deve, ainda, capacitar ao pleno exercício da cidadania, formando, informando e viabilizando o desenvolvimento sustentável no intuito de constituir-se, assim, um dos pilares desse processo de formação de uma nova consciência em nível planetário, sem perder a ótica local, regional e nacional. O desafio da EA, nesse particular, é o de criar as bases para a compreensão holística da realidade (DIAS, 2004).
Em busca desta cidadania planetária, a criação de instrumentos e metodologias de transformação é essencial para o enfrentamento das questões socioambientais vigentes, de forma que aproximam estas crianças e adolescentes, protagonistas do presente, de tais demandas sociais. Estes instrumentos e metodologias de transformação são as ferramentas com as quais a sociedade espera ver concretizado, no sonho e no imaginário de construção coletiva: um mundo sustentável e com equidade social!
Neste sentido, a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (Com-Vida), que tem por objetivo envolver toda a comunidade na construção da Agenda 21 na Escola é, portanto, um destes espaços de participação coletiva e instrumento construtor da sustentabilidade, de transformações no indivíduo e na coletividade. Esta experiência traz à tona uma relação compartilhada do fazer em prol de mudanças reais e concretas que podem enfrentar os problemas encontrados na escola e no entorno dela.
Participar da Com-Vida é antes de tudo assumir a responsabilidade do cuidado com o meio. É uma ação de cidadania, como bem enfatizado no artigo 225 da Constituição Federal: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (...), impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
E o cuidado com o meio deve pautar as ações da Com-Vida. Sensibilizar indivíduos, tornar o ambiente escolar mais saudável, equilibrado e sustentável, preocupar-se com o outro. Dessa forma, a Educação Ambiental é a grande aliada desta Comissão. Todo o trabalho precisa do envolvimento da comunidade escolar no seu conjunto, por isso, cada um e cada uma precisa
estar sensibilizado, alunos(as), professores(as), coordenadores(as), secretários(as), faxineiras(os) e merendeiras(os). Para Genebaldo Freire (2004), um programa ou projeto de Educação Ambiental só pode atingir seus objetivos se fomentar a participação comunitária de forma articulada e consciente.
A partir destas reflexões, em 2008, o Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás teve a oportunidade de desenvolver um projeto nomeado “Formando Com-Vidas em Goiás” com o objetivo de implantar a Agenda 21 na Escola em vinte e duas (22) Escolas da Rede Pública do Estado. Percebeu-se que nas Escolas em que a Comissão conseguiu instigar o interesse da comunidade escolar o resultado foi mais satisfatório. Em São Luis de Montes Belos (GO), uma das Escolas onde foi realizado o projeto, pode-se perceber esta participação intensa da comunidade escolar. Além dos alunos, a Comissão era composta pela diretora da escola, professores e uma das merendeiras, que se tornou uma das grandes lideranças da Com-Vida.
Com base nessa experiência, é possível afirmar que a Agenda 21 na Escola não é apenas uma ferramenta técnica, mas é, sobretudo, política, na medida em que compartilha o poder (de fala, de decisões, etc.), contribuindo para tornar o dia-a-dia da escola mais democrático e participativo. A Agenda 21 permitirá a formação de cidadãos mais conscientes de seus deveres e direitos, construindo um mundo sustentável a partir de simples ações na rotina escolar. Esse é o trabalho da Com-Vida, baseado na máxima do “Pensar Global e Agir Local”.

Referências Bibliográficas:
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Saraiva, 1999.
DIAS, Genebaldo. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo Ed. Gaia, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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