Agenda do Movimento

17 março 2011

Leitura do Brasil e do Mundo na perspectiva da produção sustentável, empregos verdes e o capitalismo moderno

Adenevaldo Teles é membro do CJ-Goiânia.

» Por Adenevaldo Teles Junior / adenevaldo.jr@gmail.com
(Publicado originalmente na Revista Agenda 21 & Juventude).


Por mais que a temática ambiental seja divulgada, ainda que de modo sensacionalista em muitos meios de comunicação, grande parte da população ainda não se deu conta da importância de preservar o meio ambiente e desenvolvê-lo de modo sustentável. Mesmo colégios, faculdades e secretarias estaduais e municipais, que na maioria dos casos recebem informações de qualidade a respeito, além de apoio para trabalhos nesta área, não se tornaram de fato conscientes do desgaste e destrui-ção do meio ambiente. Costumam tratar o problema de modo secundário, ou seja, paralelo a outras necessidades. Mesmo que a discussão da preservação e desenvolvimento sustentável tenha surgido na década de 60, com diferentes e cada vez mais acentuadas manifestações, pouca coisa foi feita se comparado com a força da necessidade.
Um grande divisor de águas surgiu com a publicação do relatório chamado “Limites do Crescimento”, em 1972, sob o patrocínio do Clube de Roma, onde se demonstra a inviabilidade do prosseguimento do ritmo e do estilo de desenvolvimento adotado pelos países capitalistas mais ricos, em face do esgotamento revisível de recursos e fontes de energia. No mesmo ano, a ONU organiza em Estocolmo a I Conferência Mundial Sobre o Meio Ambiente Humano e, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a conhecida Rio-92, com 179 países participantes. Consequentemente, preocupações com a preservação da Biodiversidade e o equilíbrio do Clima, entre outras, têm surgido.
O Brasil tem sido visto como o país do futuro pois, mesmo sendo emergente, tem obtido bons resultados de ecodesenvolvimento e de trabalhos gerados a partir da preservação do meio ambiente sem descartar a geração de lucro. Em comunidades como a de Carajás (PA), a Estância Ecológica SESC - Pantanal em Barão de Melgaço (MT), a Reserva Natural na Mata Atlântica em Linhares (ES), a Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri (AC) e em outras regiões do país, a coleta de frutos e fibras para fabricação de artesanatos, produtos para a alimentação orgânica e pesquisas científicas têm dado certo: gerando empregos verdes, movimentado a economia local, além de valorizar e proteger sua biodiversidade e cultura.
Mesmo com bons resultados, ainda há muito que fazer. O país enfrenta graves níveis de desmatamento, queimadas, poluição, lucro concentrado, mineração degradante, descaso com o meio ambiente, extinção de vida animal e vegetal.
É cada vez mais comum na atualidade a tomada de uma consciência ambiental superficial. Onde empresas internacionais e nacionais, e do próprio Governo Federal, têm em grande parte “terceirizado” o trabalho de recuperação de áreas desmatadas, preservação do meio ambiente e conscientização da população, disponibilizando uma pequena parte de investimentos para ONGs e movimentos civis organizados realizarem esse trabalho. Em seguida, apenas são cobrados relatórios comprobatórios da atividade patrocinada, sem reais atitudes de interesse profundo em acompanhar o trabalho complexo de manejo sustentável, ao passo que as empresas garantem um lucro considerável.
A situação de degradação e trevas que o meio ambiente tem passado há décadas tem sido usada como slogan comercial. Empresas industriais têm cuidado de desenvolver a idéia de que estão protegendo o meio ambiente ao apoiar um projeto de reflorestamento ou preservação de uma área virgem. Construindo a imagem de que são empresas boas e responsáveis, comprometidas ambientalmente. Mas a situação demonstra que estão brincando com a gravidade do problema para adquirir mais dinheiro. Muitas vezes ignorando a importância de um trabalho sério de preservação e desenvolvimento do meio ambiente.
As maiores bolsas de valores do mundo, como a Bovespa, criaram normas para acompanhar o valor de empresas social e ambientalmente responsáveis. Essa política de valorização de empresas e consequentemente de mercados que possuam como plano de fundo a produção sustentável é um impulso para que novos projetos deste gênero surjam em maior número, sem desconsiderar a qualidade e seu principal objetivo.
A imensidão de potencialidades geradas e em via de realização devido ao trabalho sustentável com a natureza impressiona. Fábricas de cosméticos, perfumes, fitoterápicos, artesanato, tecelagem, polpas de frutas, entre outros produtos naturais, além de atividades ligadas ao desenvolvimento do ecoturismo. Produtos obtidos a partir de matérias-primas renováveis ou não-renováveis. Sempre com o objetivo de explorar os recursos da floresta de maneira viável e duradoura, contribuindo para a melhoria de vidas das comunidades locais e para a preservação do meio ambiente.
Mesmo com uma variação de preço superior, cerca de 30% da população opta por produtos saudáveis com selos verdes. O Selo Verde é um certificado que qualifica os produtos de empresas que utilizam métodos de exploração sustentáveis. Garante-se, assim, um mercado firme e bem aceito, que enobrece este tipo de produção provando mais uma vez que economia e meio ambiente podem sim andar juntas.
É um constante desafio a defesa do meio ambiente e sua conciliação com os negócios. O sistema nem sempre beneficia de forma igualitária produtores que atendem a métodos de produção sustentável e comunidades extrativistas. Outro debate importante é quanto aos empregos verdes. O termo é novo e divide muitas opiniões, já que não existe um texto que, de modo formal, regularize este tipo de trabalho. A adoção de empregos verdes é uma novidade plausível, possuindo como orientação a aplicação de métodos de comportamentos e produções sustentáveis. No entanto, os chamados empregos verdes possuem uma grande lacuna dentro de sua teoria e prática. Alguns críticos afirmam que os empregos verdes estão “limitados a executivos experientes em sustentabilidade”.
Ainda que se diga que vivemos numa Sociedade racional, nossos meios de consumo são bastante irracionais. As pessoas nem sempre compram por necessidade, e sim para atender novos padrões de consumo, novas modas e tendências fixadas por um mercado que descarta toneladas de lixo por ano. A manipulação de empresas mundiais para o consumo desenfreado tem ignorado uma verdade inconveniente. O ciclo de destruição causado por conta da produção e venda destes produtos tem intensa ligação com a situação atual do meio ambiente e da sociedade global, em que vivenciamos alterações preocupantes do clima, ausência de saúde mental e física, além de usurpação do lucro causando níveis de pobreza extremos. 
Adenevaldo Teles Junior - Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás - adenevaldo.jr@gmail.com - http://adenevaldo.blogspot.com/

Referências Bibliográficas:
MINC, Carlos. Como fazer movimento ecológico e defender a natureza e as liberdades. 3º edição, Vozes Ltda, Coleção Como Fazer, 1985. 
Revista da Companhia vale do Rio Doce. Biodiversidade. 1º edição, Horizonte Geográfico, 2005.
Colóquio empregos verdes e construções sustentáveis, texto orientador. Empregos verdes: para o trabalho decente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono. GT Matriz Energética para o Desenvolvimento com Equidade e Responsabilidade Socioambiental, 2005.

2 comentários:

  1. Mto bom o artigo do Adenevaldo! Escreve com uma destreza fantástica e nos faz repensar o mundo a nossa volta! Parabéns ao movimento que produz tantas reflexões!

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  2. Texto muito bem embasado e contribui para muitas reflexões a cerca dessa nossa sociedade que já é chamada de pós-moderna.

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